Entre sabores como o de morango com pimenta ou o de maçã, Marcelo chegou até a bolar um de camarão – mas nesse ele acha que foi longe demais. “Nem levei para a vitrine, mas pessoas próximas provaram e disseram que dava para tomar”, diverte-se.
SAIBA MAIS @lilimelsorveteria
Marcelo Ismerim Alvarez, proprietário da sorveteria artesanal Lili & Mel, em Camaçari, na Bahia
SORVETE DE VINHO QUENTE
No meio do ano, uma sorveteria na Vila Mariana, em São Paulo, apareceu oferecendo vinho quente – a bebida típica das festas juninas – em formato de sorvete. O público gostou.
Claudio Sales começou no ramo dos sorvetes em 2012, no bairro do Ipiranga, com R$ 12 mil emprestados. Vendeu outras marcas, fez cursos de sorveteiro e começou a fabricar o próprio produto, distribuindo por meio de ambulantes com carrinhos.
O famoso sabor vinho quente da Ébanos é feito à base de leite e leva suco de uva e uma redução de vinho e maçã caramelizada com cravo e canela. Mas há outros: alecrim com base de frutas verdes; banana caramelizada... Os sorvetes de sabores inusitados representam de 15% a 30% do faturamento.
Claudio sempre mescla os sabores na vitrine e afirma que prestar atenção à reação do cliente é um dos segredos do sucesso: "Equilibro a vitrine com uns 20 sabores, mesclo as cores, sempre tenho uns dois vermelhos, algum de coco, três ou quatro tipos de chocolate, um ou dois inusitados e uns três sabores veganos”.
De tanto observar a clientela, ele entendeu que o sabor inusitado faz sucesso porque mexe com as sensações.
Na sorveteria, que fatura cerca de R$ 45 mil por mês, trabalham ele, o filho e uma confeiteira. Quando o movimento aumenta, chamam um freelancer. No frio, servem café e chocolate quente para manter o movimento.
Mas os sorvetes inusitados nunca saem da vitrine. Mal chega o final de ano, já tem cliente pedindo os sabores com panetone e chocotone.
Claudio Sales, proprietário da Sorveteria e Café Ébanos
SAIBA MAIS @ebanossorveteecafe
SER INSTAGRAMÁVEL AJUDA NAS VENDAS
No universo dos tradicionais morango, creme, flocos e chocolate, deparar-se com uma bola que traz um toque inusitado já é motivo para o boca a boca se instalar – seja do antigo modo, seja por meio dos posts nas redes sociais. É que sorvetes de sabores inusitados são também “instagramáveis” e chamam clientes.
Francisco Sant´Ana, dono e professor da Escola Sorvete – empresa que capacita profissionais para trabalhar no ramo –, enfatiza que fazer um plano de negócios e apostar em uma boa comunicação envolvendo o cliente nas qualidades do seu produto são dois pontos extremamente importantes.
“O mercado está cheio de ideias boas, mas executadas em produtos ruins tecnicamente”, lembra. “Então, a melhor maneira de se diferenciar e causar impacto é fazer sorvete com alta porcentagem de fruta de verdade (em vez de saborizantes), macio e sem cristais de gelo”, orienta o professor.
Cuidadoso, Francisco acredita que a ousadia de fazer produtos inusitados ainda vem depois de um período de maturação do negócio.
“A melhor maneira de se diferenciar e causar um impacto inusitado é fazer sorvete com alta porcentagem de fruta de verdade (em vez de saborizantes), macio e sem cristais de gelo” - Francisco Sant' Ana, Dono e professor da Escola Sorvete
DICAS PARA ACERTAR
Equilibre a vitrine: tenha os tradicionais, mas mescle sabores e cores.
Tenha opções sem açúcar, vegana e zero lactose.
Aproveite a safra: fruta da estação barateia o custo e é chamariz.
Batize o sabor: o nome do sorvete pode determinar seu sucesso.
Vantagens dos sorvetes de sabores inusitados
O mercado de sorvetes que fogem dos sabores tradicionais é uma realidade. “Os sabores inusitados surgiram há pouco tempo e há necessidade de se fazer um estudo minucioso, mas é uma tendência”, conta Eduardo Weisberg, presidente da ABIS.
Para ele, não é modismo. Aliás, o tema “Inovação” já foi amplamente discutido no CLASH - Congresso Latino-Americano de Sorvetes e Helados, evento que a ABIS promove todos os anos, e o assunto “sorvetes inusitados” deve ganhar espaço na edição do ano que vem.
Weisberg lembra de mais uma vantagem desse mercado: sorveterias e gelaterias têm facilidade para testar sabores e retirá-los do cardápio caso não deem certo.