De acordo com Sergio Molinari, da Food Consulting, foi identificado em grande parte dos pequenos negócios do setor de alimentação um conjunto comum de erros de gestão que contribuíram para ampliar as consequências do período de isolamento social.
Dentre esses erros, estão: capital de giro reduzido; recebíveis já antecipados; endividamento alto e contabilidade precária. “Quando se junta esse grupo de características, percebe-se a fragilidade dos negócios em um momento de crise, especialmente por parte de empresas menores e até mesmo mais recentes”, observa o consultor.
CAPITAL DE GIRO
Tecnicamente, o capital de giro corresponde à diferença entre os recursos disponíveis em caixa e a soma de todas as despesas e contas a pagar. Em outras palavras, significa o valor que um negócio dispõe para se manter em funcionamento.
De acordo com Pedro Henrique, a grande taxa de falência de empresas no Brasil tem relação direta com a falta de capital de giro: “O empreendedor compra os insumos normalmente à vista ou com prazo curto de pagamento. Mas, até comercializar o produto e, de fato, receber o dinheiro, há um período de tempo – especialmente considerando que parte dos pagamentos são feitos a prazo. Nesse período entre a compra dos insumos e o recebimento do dinheiro, é preciso que haja recursos para pagar as contas de energia, salários de funcionários, aluguel e as demais despesas”.
O consultor aponta que, em termos gerais, o capital de giro deve ser suficiente para pagar todas as contas do negócio por pelo menos 45 dias. “O grande desafio para o empreendedor é guardar um capital mínimo pra esses 45 dias.
Quando não há essa preocupação, ele ‘cai do cavalo’ com as contas do dia a dia”, relata Pedro Henrique, destacando o problema crítico da carência de entendimento, por parte do empreendedor brasileiro, sobre as finanças do negócio, o que ganha maior destaque em tempos de instabilidade econômica.
ANTECIPAÇÃO DE RECEBÍVEIS
A partir do início da baixa geral nas vendas, alguns empreendedores que não dispunham de capital de giro suficiente recorreram à antecipação dos recebíveis como alternativa para cobrir as despesas mais urgentes.
A prática de antecipar recebíveis significa adiantar, geralmente mediante uma taxa de juros, o recebimento de valores que só chegariam mais tarde – no mercado de alimentação, isso acontece principalmente em vendas feitas por cartão de crédito e por plataformas de delivery.
Entretanto, uma grande parcela de proprietários de negócios já havia antecipado todo o fluxo de contas a receber antes da pandemia, ficando sem nenhuma fonte de recursos em curto prazo.
“Antecipar o recebimento dos recursos é comum no nosso mercado, mas é preciso haver um grande controle financeiro. Quando o empreendedor precisa de crédito rápido, pode ser uma boa ideia, já que os juros são bem menores do que os das linhas de crédito. Porém, muitos fazem isso sem controle nenhum, gerando um ‘buraco’ nas finanças do negócio e um alto gasto com juros”, alerta Pedro Henrique.
ENDIVIDAMENTO ALTO E CONTABILIDADE PRECÁRIA
De acordo com Sergio Molinari, o alto endividamento, aliado à contabilidade precária, tornou difícil para grande parte dos empreendimentos afetados pelos efeitos econômicos da quarentena ter acesso aos programas governamentais de proteção aos pequenos negócios, especialmente quanto às linhas de crédito com condições especiais.
Problemas desse tipo, no controle das finanças, comprometem a saúde do empreendimento e tornam mais difícil encontrar uma saída. Novamente, a recomendação dos especialistas é pela atualização e capacitação constante do empreendedor do ponto de vista de gestão do negócio.
PERSPECTIVAS
Para Pedro Henrique, o cenário pós-pandemia trará consumidores mais seletivos e com novos comportamentos de consumo. Mas cabe ao empreendedor se reinventar para estar melhor preparado para gerenciar seu negócio e torná-lo mais saudável financeiramente e mais resistente a períodos de instabilidade econômica.
“Quem souber navegar nesse mercado a partir de agora terá boas oportunidades. Empreendedores que não forem criativos e não viverem a atualização imediata do mercado estarão fora. Mas aqueles que se dispuserem a se capacitar e a se atualizar constantemente, principalmente do ponto de vista da administração do negócio, das finanças, do marketing e da gestão de pessoas, terão um bom caminho à frente”, orienta o consultor.
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