ENTREVISTA
Assaí Bons Negócios: Como planejar 2021 considerando uma retomada e após um ano atípico e complicado para diversos setores?
Hugo Eduardo Meza Pinto: Planejamento é uma coisa que precisa estar presente na vida de todos as pessoas após este grande evento que ainda estamos vivendo, que é a pandemia de Covid-19. Não há como prever, porém, dá para saber que há probabilidades de ocorrer eventos desse tipo.
Portanto, o planejamento, mesmo que não consiga sinalizar ou alertar sobre as ameaças, ajuda a estabelecer metas e parâmetros, ideais, para uma vida planejada e tranquila, dentro do possível, para o próximo ano.
Precisamos falar muito sobre reserva, dinheiro para emergência, que é o que qualquer tipo de agente econômico deve ter. A reserva significa um dinheiro que tenha fluidez, que possa ser retirado de qualquer aplicação financeira, e que sirva para esses casos não previstos, como questões ligadas à saúde ou outros imprevistos.
O fluxo de caixa também é importante, porque em momentos de falhas na captação de receita, torna-se importante para manter a estrutura dos negócios.
O planejamento, pós-pandemia será visto como mais importante ainda. Quando estamos em equilíbrio, os agentes se comportam de maneira previsível. Porém, quando há um evento dessa magnitude, são impactados de maneira profunda.
Assaí: Considerando que estamos em pandemia ainda, como planejar?
HEMP: A minha recomendação é não esperar para saber o que vai acontecer no seu setor. O planejamento é uma ação permanente, e revê-lo sempre é uma obrigação de qualquer empresa.
Nesse sentido, precisamos planejar no instante em que percebemos que este ano foi atípico com muitas condicionantes e, como empresários e consumidores, rever de que maneira podemos estabelecer um planejamento adequado para 2021. >>
Acredito que a economia vai se recuperar rapidamente. O Brasil tem mais de 200 milhões de consumidores; podem ser de baixa renda, renda média, mas, enquanto tivermos consumidor, teremos um mercado interno para dar vazão à produção. Minha recomendação é investir e apostar nessa retomada do crescimento que já está acontecendo.
Assaí: Como o planejamento deve ser feito para englobar o ano inteiro? Mensal, semestral, trimestral…? Por quê?
HEMP: Pode ser feito mensalmente, semestralmente… mas a sugestão é que seja feito para o ano e que dê possibilidades para empreendedores reverem suas metas em cima da projeção de que a economia voltará a crescer.
Outra questão é que deve ser feito a várias mãos, de forma compartilhada com todos os envolvidos no negócio e que possa ser revisto permanentemente. Isso é fundamental! Por isso é que requer preparo de quem faz parte.
É impossível hoje não pensar em qualificação, porque quanto maior ela for, mais a pessoa terá a capacidade de enxergar gargalos. Quanto mais conhecimento tiver quem fez o planejamento, melhor para o objetivo final.
Assaí: Quais pontos avaliar primeiro?
HEMP: Quando fazemos o planejamento, a primeira coisa a se fazer é mapear as variáveis que cercam o negócio − o que queremos analisar, quais as variáveis impactam positivamente ou negativamente as empresas. São dois tipos de variáveis: as endógenas e as exógenas.
As endógenas são aquelas que impactam de dentro para fora, como uma inovação, produtividade, marketing, qualificação da mão de obra... que são decisões da empresa e ela pode controlar.
Por outro lado, temos as exógenas, que não podem ser controladas, mas impactam diretamente. Como a pandemia, que ninguém esperava. Outros exemplos são: crise financeira, taxa de juros, crise política…
Porém, o fato de não serem controladas não quer dizer que não possamos visualizá-las e apontá-las. O importante é entender que isso tem que estar no planejamento.
Assaí: O que não pode de forma alguma ficar de fora?
HEMP: A necessidade de ter uma reserva de valor para eventualidades. A segurança é importante porque não sabemos o que vai acontecer no futuro na economia. O que podemos fazer é imaginar cenários. Dada essa imprevisibilidade, é preciso ter, sim, uma reserva de valor, e a pandemia nos mostrou isso.
Outro ponto importante no planejamento é a diminuição de custos, mas não os fundamentais para o negócio. Muitas vezes, é necessário até investir mais, dependendo do tipo de atividades que se deseja agilizar. Falo em evitar o que hoje não é mais necessário.
Nesse sentido, cabe aos empreendedores identificar esses gastos desnecessários e isso deve ser um permanente ato de gestão. Nossa economia muda rapidamente, em curto espaço de tempo, e não acompanhar isso é um dos maiores pecados de quem faz planejamento.
Assaí: Que dicas básicas você dá para o planejamento?
HEMP: Que o negócio acompanhe as tendências, não tenha medo de inovar. É preciso fazer projeções olhando o futuro consumidor, o que ainda não está ganhando dinheiro mas vai ganhar, aquele que não tem medo de comprar pela internet e é muito mais digital que nós.
Não se pode ter medo de errar, de inovar, de usar tecnologia e, principalmente, de acompanhar as tendências por considerar que são muito disruptoras. O aprendizado humano é permanente. A história mostra uma evolução constante.
A essência é a mesma, mas a embalagem, o campo em que se executam as ações são outros, é um ambiente mais digital, mais inovador e mais desafiador.
7 DICAS DO ESPECIALISTA PARA SEU PLANEJAMENTO 2021:
√ Não esperar para saber como ficará o setor
√ Deve ser feito do ano todo (com possibilidade de revisão frequente)
√ Fazê-lo de modo compartilhado com os envolvidos no negócio
√ Mapear as variáveis que cercam o negócio
√ Diminuir custos que não sejam fundamentais
√ Acompanhar as tendências, sem medo de inovar
√ Fazer projeções olhando o futuro consumidor
Hugo Eduardo Meza Pinto