Inovar é preciso
27/07/2015 - 15h
Inovação. Ao ouvir esta palavra, muita gente já imagina uma equipe de pesquisadores, laboratórios de testes e altos investimentos. Mas, na realidade, inovar depende muito mais da filosofia da empresa, do que do porte – e as pequenas empresas podem investir nessa ideia sem medo. “Inovar é fundamental para qualquer negócio e é preciso acreditar nisso. O empresário, dono do negócio, deve ser o líder da inovação na empresa”, afirma Marcelo Pimenta, empresário, consultor e professor de inovação da pós-graduação da ESPM, além de fundador do Laboratorium Projetos Inovadores. “A inovação também é uma prática. Comece a inovar. Você vai aprendendo, errando, aprendendo, errando de novo, e com isso vai se tornando um expert no assunto”, completa Pimenta.
Muitas vezes a inovação pode começar de forma simples, resolvendo alguma questão de maneira criativa, aponta a coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper, Cynthia Serva. “Existem as inovações disruptivas – aquelas mais radicais – e as inovações menores. Inovar é resolver um problema. É preciso pensar: 'Que problemas tenho que resolver para os meus clientes?'. Pode ser a melhoria de um processo, um produto, um serviço. Inovação gera competitividade”, diz.
Antenado com as demandas do mercado, o empresário Márcio Claudio de Moura, sabe que é preciso manter-se bem informado para sair na frente. “Para o pequeno empresário, é fundamental inovar todos os dias para não ficar para trás. Quem já está no ramo, não pode perder clientela. Temos que fidelizar os clientes e mostrar coisas novas”, conta o empresário, proprietário do Lelê Buffet há 12 anos e cliente do Assaí Tijuca há três.
O Lelê Buffet fica em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e foi concebido inicialmente como uma lanchonete, até o dia em que uma profissional de RH perguntou ao Márcio se ele toparia fornecer lanches para um treinamento na empresa. Márcio aceitou o desafio, acabou adquirindo experiência neste segmento e, hoje, fornece também café da manhã, café da tarde, chá de bebê para as funcionárias, aniversários e outros eventos corporativos. “Atendemos cerca de 900 pessoas por dia. Tenho contratos com grandes empresas do Rio de Janeiro, desde telecomunicação até bancos”, afirma.
Márcio inovou uma vez e inova sempre, afinal, está constantemente em busca de novas ideias e maneiras de agradar sua clientela. Ao sair do tradicional kit “sanduíche-bolo-suco”, ele destacou sua empresa no mercado de lanches e as indicações não pararam de surgir. A cada mês ele cria um cardápio diferenciado. Em junho, por exemplo, inseriu quitutes juninos nos lanches. Além de contar com a inovação para fidelizar clientes – e conquistar novos –, o Buffet Lelê também aposta na capacitação dos funcionários. Afinal, se a inovação também parte da equipe, ela precisa estar atualizada com o mercado.
Inovação efetiva
Os especialistas são unânimes: para inovar é preciso querer e inserir a inovação no DNA da empresa. “Primeiro, a inovação precisa ser desejada pela alta direção. Se a alta direção é contrária a buscar alternativas de melhoria, não gosta de pensar em criar novas formas de relacionamento com os clientes, não estimula a pesquisa de novos produtos, serviços, matérias-primas, fornecedores etc., fica muito difícil para a equipe conseguir se sentir confortável para propor mudanças”, explica Marcelo Pimenta.
Cynthia ainda lembra certos entraves culturais do empresário brasileiro: “O Brasil é reconhecido por ser um país empreendedor; antes por necessidade do que por oportunidade. Quando é por necessidade, não se vê muita inovação. E ela ainda é percebida como algo distante, das grandes empresas ou que exige grandes investimentos”. Este mito, porém, aos poucos é quebrado, e o pequeno e médio empresários vão percebendo os efeitos positivos que a inovação – por menor que seja – gera.
“Vencida essa etapa – a alta direção então já acredita e estimula a inovação –, é preciso criar um ambiente propício. A criatividade precisa ser sempre valorizada, nos pequenos atos. É um erro achar que a inovação acontece de forma 'grandiosa'. Ela começa nas pequenas conquistas, em um novo jeito de expor os produtos, em uma nova promoção, em um estímulo à cocriação e valorização de novas ideias”, exemplifica Marcelo. “Para isso, existem políticas, ferramentas, técnicas e valores que precisam ser cultivados para permitir a inovação”, diz o consultor.
Então, mais do que nunca, a cultura da inovação precisa ser incentivada. Não só isso, ela consegue ser implementada através de um processo que pode ser aplicado por todas as empresas, independentemente do porte. “Inovação é, ao mesmo tempo, processo e resultado. Para obter o resultado – a inovação – é preciso ter um processo. Começa com uma intenção estratégica clara do que se pretende, como e quando”, explica Solange Mata Machado, diretora da Imaginar Solutions.
“O processo é colaborativo e envolve todos na empresa, porém, as pessoas precisam ser motivadas e treinadas para contribuírem criativamente. Pode-se começar essa prática por ondas, em que cada resultado obtido em cada onda é difundido e reconhecido. Os projetos que surgirem são guardados em um portfólio para serem melhorados ou implementados. A repetição vai criando uma cultura colaborativa que faz parte da inovação”, conclui Solange.